segunda-feira, 24 de março de 2014

Juventude em risco

por Neca Setubal*

Em artigo do professor Naércio Menezes Filho, publicado no jornal Valor Econômico na sexta-feira (21), ele destaca com preocupação o fato de que, segundo o IBGE, dois milhões de jovens entre 15 e 24 anos não concluíram o Ensino Fundamental. O aprofundamento desses números revela que 64% deles estão nas regiões Norte e Nordeste e 36% nas demais regiões, além de 66% deles viver em áreas urbanas. Naércio destaca ainda que grande parte está inserida em famílias pobres, mas não na parcela extremamente pobre.

Assim como o autor, ressalto a perda de enorme potencial para o país que esse segmento de jovens representa. Não estamos conseguindo garantir nem ao menos um ensino básico para todos, quanto mais a formação que o mundo hoje exige, com base nos eixos da criatividade, resolução de problemas, expressão e comunicação oral e escrita, dentre outras habilidades.
Nesse contexto, um abismo vai se abrindo em proporções cada vez maiores, já que não conseguimos superar as desigualdades educacionais vigentes no século 20, e a sociedade contemporânea traz mudanças em velocidade assustadora, exigindo formação cada vez mais sofisticada de nossas crianças e jovens.

Em diversos Estados brasileiros, o Ensino Médio é objeto de estudo e discussão na busca de alternativas que atualizem o currículo e construa pontes para o mercado de trabalho. No entanto, não basta a intervenção nesse nível de ensino, pois ainda temos a árdua tarefa de construir um Sistema Nacional de Educação Básica que apresente resultados adequados de aprendizagem para todos seus alunos.

Para isso, é fundamental a elaboração de políticas que atinjam diretamente as crianças e jovens moradores de territórios de alta vulnerabilidade social com ações específicas que possam dar condições às escolas e a seus professores desenvolverem um trabalho de qualidade. Ainda se faz necessário também uma articulação com os setores da assistência social e da cultura. A utilização do cadastro da Bolsa Família pode ser um bom começo para se desenhar políticas educacionais mais customizadas de acordo com os perfis das famílias.

Acrescente-se ainda a importância do resgate cultural dessas populações, valorizando suas culturas de origem, seu sentimento de pertencimento e, ao mesmo tempo, possibilitando meios para uma ampliação de seu universo cultural consoante com os desafios contemporâneos.

Nos responsabilizarmos pela inclusão no Sistema educacional desses jovens que ainda não finalizaram o Ensino Fundamental deveria ser prioridade nacional. Desta forma, apontaríamos a eles um caminho para a construção de seus projetos de vida pessoal e para sua participação econômica, social e política na sociedade.

*Neca Setubal é presidente do conselho do Centro de Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e Ação Comunitária (CENPEC), fundadora da Rede Sustentabilidade, graduada em Ciências Sociais pela USP (Universidade de São Paulo), doutora em Psicologia da Educação pela PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo) e mestre em Ciência Política pela USP.
em Rede Sustentabilidade

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Olá! Deixe aqui sua opinião lembrando-se sempre do respeito e da civilidade com que devemos tratar a todos. Obrigado.