terça-feira, 3 de setembro de 2013

Marcas da Ditadura em Pernambuco

Confidencial - Documentos Secretos da Ditadura Militar reúne registros de um período que não deve ser esquecido pela nação

Primeiro de abril de 1964, por volta das 19h, Casa Amarela, Zona Norte do Recife. Severino Salustiano da Silva, 44 anos, escriturário e pedreiro, distribuía panfletos a moradores do bairro. Calcularia, dias depois, “na ordem de quinhentos” as peças que tinha para distribuir à população. Impressos em mimeógrafos, os panfletos denunciavam que o então governador Miguel Arraes de Alencar estava sitiado no Palácio do Campo das Princesas – sede do governo estadual – e que era preciso resistir.

Não demora muito, seu Severino, trabalhador, como a esposa, do Movimento de Cultura Popular (MCP), era preso acusado de ligação com “elementos comunistas”. O golpe de 64 dava os primeiros passos. Arraes já estava preso e, 17 dias depois, seu Severino, em depoimento, dizia ter pensado que estava produzindo “um bem”, porém verifica agora que estava produzindo “um mal”.
O depoimento do escriturário foi tomado no dia 18 de maio de 1964, no Quartel da Segunda Companhia de Guardas, no Recife, pelo tenente-coronel Hélio Ibiapina Lima, tendo o capitão Noaldo Alves Silva atuando como escrivão. Objeto de Inquérito Policial Militar (IPM) inserido no processo nº 35.970 existente nos arquivos do Superior Tribunal Militar (STM), a sua prisão é tratada em um dos 177 documentos divulgados agora no livro Confidencial – Documentos Secretos da Ditadura Militar, do advogado, escritor e anistiado político Hiram Fernandes.
O livro, em dois volumes totalizando 1.585 páginas, é fruto de quase uma década de pesquisa e estudos e será lançado na próxima quinta-feira (30), a partir das 19h, no Museu do Estado.


Os Arquivos Públicos foram alvo importante da pesquisa, mas grande parte dos “documentos secretos” vem mesmo é dos inúmeros processos que o golpe militar fez produzir no STM. Num momento em que o Brasil assiste às discussões e revelações no âmbito das Comissões da Verdade instaladas em todo o País, páginas e mais páginas de IPMs, antes inéditas para o grande público, estão reunidas na edição e fazem o leitor se deparar com episódios e mais episódios da repressão política.
De personagens conhecidos do grande público, como o ex-governador Miguel Arraes e dezenas de outros políticos que sofreram a dureza do golpe – e também de personagens “anônimos”, como o escriturário e pedreiro que distribuía panfletos e terminou preso.
De Arraes, dois trechos do seu depoimento retratando o dia do golpe são destacados numa das contracapas: 

1- “Que depois de cercado e quando lhe foi trazida a ordem de deposição, transmitida pelo General Castilho, foi lhe ainda dada a oportunidade de deixar o Palácio e, portanto, de se abrigar ou de fugir”.

2- “Que, não quis sair do seu posto, pois, não se julgava culpado de qualquer crime; que, as ações do depoente, portanto, confirmam o seu permanente propósito de manter a ordem e de cumprir as obrigações decorrentes do seu mandato”.                      fonte: JConline

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