A pesquisa elaborada pelo Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) que mostrou que 65,1% dos brasileiros acha que
mulher que mostra o corpo merece ser estuprada, reconhece erro na
pesquisa, e na verdade são 26% dos brasileiros que concordam com isso.

Ipea reconhece erro em pesquisa de estupro - 65%
era 26%
São Paulo - O Instituto de Pesquisa Econômica
Aplicada (Ipea) publicou nota em que faz uma errata à pesquisa “Tolerância
social à violência contra as mulheres”, que causou polêmica na semana passada.
O número de maior repercussão mostrava que 65% dos brasileiros concordavam com
a afirmação "mulheres que usam roupas que mostram o corpo merecem ser
atacadas". Na verdade, o número é de 26%.
Compare a forma como os brasileiros de fato
responderam à questão e, em seguida, como ela foi publicada na semana passada:
Mulheres que usam roupas que mostram o corpo
merecem ser atacadas (em %)
Correto
Discorda totalmente
|
Discorda parcialmente
|
Neutro
|
Concorda parcialmente
|
Concorda totalmente
|
58,4%
|
11,6%
|
3,4%
|
12,8%
|
13,2%
|
Errado
Discorda totalmente
|
Discorda parcialmente
|
Neutro
|
Concorda parcialmente
|
Concorda totalmente
|
24%
|
8,4%
|
1,9%
|
22,4%
|
42,7%
|
Como pode ser visto, 70% dos brasileiros discordam parcial ou totalmente desta frase, número ainda maior que os supostos 65% que teriam respondido que concordavam, na semana passada.
A confusão foi gerada, segundo o Ipea, pela troca
entre as respostas de duas perguntas. O diretor da área de Estudos e
Políticas Sociais, Rafael Osório, pediu exoneração do cargo após o erro ter
sido percebido.
Nos últimos dias, a pesquisa já estava sendo alvo
de contestação. Especialistas apontavam que as respostas eram contraditórias.
É questionado ainda o fato de 66% dos
entrevistados na pesquisa serem mulheres, enquanto elas representam 51%
da população brasileira. O instituto defende que as conclusões gerais do
estudo permanecem válidas. 'Os demais resultados se mantêm, como a
concordância de 58,5% dos entrevistados com a ideia de que se as mulheres
soubessem como se comportar, haveria menos estupros. As conclusões gerais da
pesquisa continuam válidas, ensejando o aprofundamento das reflexões e debates
da sociedade sobre seus preconceitos", defende o Ipea.
Implicações
A rigor, a publicação da errata não traz grandes consequências práticas, já que se trata de uma pesquisa de opinião. No entanto, é imprevisível que efeitos pode ter sobre a percepção nacional, dada a dimensão que ela atingiu na última passada.
O erro, por exemplo, afetou a imagem do Brasil no
exterior: jornais e revistas das maiores economias do planeta repercutiram a
informação, que ficou tachada como símbolo do grande machismo da sociedade
brasileira.
A presidente Dilma Rousseff se manifestou no
Twitter, dizendo que a “pesquisa do Ipea mostrou que a sociedade brasileira
ainda tem muito o que avançar no combate à violência contra a mulher".
Já a jornalista Nana Queiroz, de Brasília, começou
a campanha #naomereçoserestuprada, em que mulheres tiraram fotos, normalmente
tampando os seios, com a frase titulo do movimento. Foram milhares de adesões
nas redes sociais.
Veja a nota do Ipea na íntegra:
"Vimos a público pedir desculpas e corrigir
dois erros nos resultados de nossa pesquisa Tolerância social à violência
contra as mulheres, divulgada em 27/03/2014. O erro relevante foi causado pela
troca dos gráficos relativos aos percentuais das respostas às frases Mulher que
é agredida e continua com o parceiro gosta de apanhar e Mulheres que usam
roupas que mostram o corpo merecem ser atacadas. Entre os 3.810 entrevistados,
os percentuais corretos destas duas questões são os seguintes:
Corrigida a troca, constata-se que a concordância
parcial ou total foi bem maior com a primeira frase (65%) e bem menor com a
segunda (26%). Com a inversão de resultados entre as duas questões, relatamos
equivocadamente, na semana passada, resultados extremos para a concordância com
a segunda frase, que, justamente por seu valor inesperado, recebeu maior
destaque nos meios de comunicação e motivou amplas manifestações e debates na
sociedade ao longo dos últimos dias.
O outro par de questões cujos resultados foram
invertidos refere-se a frases de sentido mais próximo, com percentuais de
concordância mais semelhantes e que não geraram tanta surpresa, nem tiveram a
mesma repercussão. Desfeita a troca, os resultados corretos são os que seguem.
Apresentados à frase O que acontece com o casal em casa não interessa aos
outros, 13,1% dos entrevistados discordaram totalmente, 5,9% discordaram
parcialmente, 1,9% ficou neutro (não concordou nem discordou), 31,5%
concordaram parcialmente e 47,2% concordaram totalmente. Diante da sentença Em
briga de marido e mulher, não se mete a colher, 11,1% discordaram totalmente,
5,3% discordaram parcialmente, 1,4% ficaram neutros, 23,5% concordaram
parcialmente e 58,4% concordaram totalmente.
A correção da inversão dos números entre duas das
41 questões da pesquisa enfatizadas acima reduz a dimensão do problema
anteriormente diagnosticado no item que mais despertou a atenção da opinião
pública. Contudo, os demais resultados se mantêm, como a concordância de 58,5%
dos entrevistados com a ideia de que se as mulheres soubessem como se
comportar, haveria menos estupros. As conclusões gerais da pesquisa continuam
válidas, ensejando o aprofundamento das reflexões e debates da sociedade sobre
seus preconceitos. Pedimos desculpas novamente pelos transtornos causados e
registramos nossa solidariedade a todos os que se sensibilizaram contra a
violência e o preconceito e em defesa da liberdade e da segurança das mulheres.
(Rafael Guerreiro Osorio e Natália Fontoura
Pesquisadores da Diretoria de Estudos e Políticas Sociais (Disoc/Ipea) e
autores do estudo)
em Exame.com
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