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Repórter da BBC investiga os motivos que
levaram Joseph Ratzinger a abandonar o cargo
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Em fevereiro deste ano, o agora papa emérito Bento 16 chocou o mundo quando se tornou o primeiro pontífice a renunciar em quase 600 anos. Mas a atenção rapidamente se voltou para a sua sucessão, e a consequente eleição do argentino Francisco.
Em meio ao episódio dramático, uma pergunta nunca foi totalmente respondida – por que Bento 16 renunciou?
Em sua declaração oficial de renúncia, o papa Benedito creditou sua saída à fragilidade de sua idade avançada e às exigências físicas e mentais do cargo, mas sempre houve a suspeita de que algo não havia sido contado. A minha apuração confirmou isso.
Fui visitar o cardeal nigeriano Francis Arinze em seu apartamento, com vista para a Praça de São Pedro, no Vaticano. Arinze é uma das figuras mais importantes da Igreja Católica atualmente e conhece o Vaticano como ninguém. Ele foi, inclusive, ainda que por pouco tempo, considerado um provável sucessor do papa Bento 16. Além disso, Arinze era um dos poucos cardeais a quem o alemão contou pessoalmente a notícia de iria renunciar.
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Para cardeal nigeriano Francis Arinze,
Vatileaks teria influenciado decisão de Bento 16 |
Levantei o assunto dos escândalos que precederam o anúncio bombástico do papa e, em particular, o vazamento dos documentos papais, conhecido como Vatileaks, pelo ex-mordomo de Bento 16, Paolo Gabriele. Isso poderia ter contribuído para a renúncia do então pontífice? A resposta de Arinze foi inesperada.
"É legítimo especular e dizer "talvez", porque alguns de seus documentos foram furtados secretamente. Claro que poderia ser uma das razões (para a renúncia de Bento 16)", afirmou Arinze.
"Talvez ele tenha ficado tão triste ao tomar conhecimento de que seu próprio mordomo, em quem tinha confiança, vazou tantas cartas que um jornalista poderia escrever um livro. Não esperava que ele estivesse contente com isso".